23.11.11

Respiração artificial - Ricardo Piglia



Este foi um livro que chegou a mim por meio deste blog, ou melhor, foi uma leitora deste blog com quem passei a trocar e-mails que me enviou uma cópia da obra. Ela mora na Bolívia, gosta muito de ler e está me introduzindo aos autores em língua espanhola e à literatura russa. Nunca tinha lido nada de Ricardo Piglia, confesso que sou muito ignorante em relação aos escritores dos países vizinhos. Uma vergonha, mas, para minha defesa, (ou não), também conheço pouquíssimos escritores brasileiros contemporâneos.

Este é o primeiro romance de Piglia, ele se passa nos anos setenta e se divide em duas partes, a primeira é constituída por cartas trocadas entre um homem na casa dos trinta anos chamado Emilio Renzi (o segundo nome e o segundo sobrenome do próprio autor) e seu tio, Marcelo Maggi, professor de história em uma pequena cidade na fronteira da Argentina com o Uruguai. Nas cartas, o tio procura esclarecer alguns episódios de sua vida e conta que está escrevendo um livro sobre o patriarca da família da ex-esposa. As cartas ao sobrinho remetem às cartas desse personagem que tomou parte da vida política da Argentina e a um passado ainda mais longínquo nos idos do século XIX.

Na segunda parte do livro, Emilio vai ao encontro desse tio que nunca viu antes. Ao chegar na cidade, onde deve passar apenas uma noite, ele é recebido por um amigo de Marcelo. Enquanto esperam o retorno deste último, que partiu em uma viagem misteriosa, ambos conversam sobre os mais variados assuntos: história, arte, literatura, filosofia, vida.

É um romance "intelectual", os personagens estão sempre expondo ideias, os diálogos são quase curtos ensaios. Kant, James Joyce, Franz Kafka, entre outros escritores e filósofos são mencionados nas conversas. O livro é interessante e revela um autor muito culto e de reflexões profundas. Espero ler mais obras de Ricardo Piglia, foi uma feliz descoberta. Cheguei a muitos autores e livros por meio de pessoas que conheci pelo caminho, essas amizades virtuais, de papel ou de carne, sempre me enriqueceram, sou grata por isso.


Eis um trecho de uma das cartas:

"... no fundo, nada de extraordinário pode nos acontecer, nada que valha a pena contar. Quero dizer, na realidade, é certo que nada ocorre. Todos os acontecimentos que uma pessoa pode contar sobre si mesma não passam de obsessões. Porque, no máximo, o que alguém pode chegar a ter na vida senão duas ou três experiências? Duas ou três experiências, não mais (às vezes, inclusive, nem isso). Não há mais experiência (ela existia no século XIX?), só há ilusões. Todos inventamos histórias diversas (que no fundo são sempre a mesma), para imaginar que algo ocorreu em nossas vidas. Uma história ou uma série de histórias inventadas que no final é a única que realmente vivemos. Histórias que contamos a nós mesmos para imaginar que temos experiências ou que algo ocorreu em nossas vidas, algo que tenha sentido."

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4 comentários:

banzai disse...

Karen, só de ler trecho da carta, ficou o gostinho de quero mais!! Estou pra desbravar os escritores (contemporâneos brasileiros), tem muita gente boa na ´praça´. Comprei do Michel Laub por incrível que pareça online, encontrei junto a séries do Crepúsculo, Paulo Coelho e afins :) estou gostando.
abraços
madoka

Karen disse...

Madoka, eu também preciso seguir seu exemplo. Você encontrou os livros no Japão mesmo?

banzai disse...

é uma dificuldade encontrar o livro que a gente quer aqui, só se for por encomenda e aí sai super caro. Tem dois sites que conheço, mas o acervo é bem limitadinho. Sendo que um deles, não são só livros que comercializa, é um grande mercadão de coisas. E num deles por acaso, encontrei do Michel Laub. Conhece Cristovão Tezza, Andrea Del Fuego, Marcelo Mirisola, entre outros? (dizem escritores brasileiros de literatura contemporânea:)
abraço
Madoka

Karen disse...

Madoka, conheço só por nome, nunca li nada deles. Tenho que começar a fazer isso...

Pena que seja assim, meu problema é o contrário, queria comprar mais livros japoneses, mas o frete é muito caro.