18.12.12

2666, Roberto Bolaño


Acabei lendo 2666 do Roberto Bolaño antes do final deste ano. E gostei muito. Bom terminar o ano com um livro ótimo, mas desconfio que este será apenas o primeiro de alguns outros, pois já tenho outras leituras engatilhadas, desta vez, livros de não ficção que me parecem muito interessantes. 

2666 é uma obra póstuma, Bolaño a escreveu antes de morrer, enquanto lutava contra um câncer, o editor escreve que o texto não seria muito diferente se Bolaño tivesse tido mais tempo para trabalhá-lo. O desejo do autor era que ele fosse publicado em cinco livros, mas acabou saindo em apenas um volume por decisão do editor e da esposa de Bolaño. Há quem concorde e quem discorde dessa decisão. Eu concordo. Apesar de as partes focarem personagens diferentes, elas se complementam, o elemento de união é uma cidade mexicana chamada Santa Teresa, onde ocorre uma série de assassinatos de mulheres, uma versão da real Ciudad Juárez. Todos os personagens acabam indo para lá em algum momento. 

Gostei muito da parte sobre os críticos, da parte sobre os assassinatos e do final, sobre Archimboldi. Os críticos são quatro pesquisadores europeus que se dedicam ao estudo de um escritor misterioso chamado Benno von Archimboldi. A parte sobre os assassinatos se concentra em Santa Teresa e descreve vários crimes cometidos nos anos 90. Gostaria que Bolaño tivesse desenvolvido mais essa parte, alguns dos personagens são muito interessantes, o jovem policial Lalo Cura e o romance entre o investigador Juan de Díos e a psiquiatra Elvira Campos dariam outros livros. 

Também há a parte sobre Amalfitano, um professor espanhol de filosofia que vive em Santa Teresa, e a parte sobre Fate, um jornalista negro que vai para a cidade cobrir uma luta de boxe. 

2666 e Os Detetives Selvagens são livros monumentais. Neles, Bolaño escreve sobre pessoas como se escrevesse sobre bolhas de sabão, coisas belas e efêmeras. E há uma sucessão delas, elas surgem e se tocam brevemente antes de desaparecem no ar.

2666 pode não ser um livro perfeito, mas é um grande livro e o próprio Bolaño, por meio de Amalfitano, reflete sobre as grandes obras literárias e sua imperfeição quando seu personagem encontra um jovem farmacêutico que prefere as obras menores dos grandes escritores:

"Ele escolheu A metamofose ao invés de O processo, Bartleby ao invés de Moby Dick, Um coração simples ao invés de Bouvard e Pécuchet e Um conto de Natal ao invés de Um conto de duas cidades ou As aventuras do senhor Pickwick. Um triste paradoxo, pensou Amalfitano. Agora, até mesmo os farmacêuticos amantes de literatura têm medo de pegar as obras grandes, imperfeitas e torrenciais, livros que abrem caminhos para o desconhecido. Eles escolhem os exercícios perfeitos dos grandes mestres. Ou o que dá no mesmo: eles querem ver os grandes mestres se pouparem, mas não têm interesse no combate real, quando os grandes mestres lutam contra algo, algo que apavora a todos, algo que nos intimida e estimula, em meio a sangue, feridas mortais e fedor."

Li em inglês, pois era a versão que tinha à disposição.



7 comentários:

Quéroul disse...

"Bolaño escreve sobre pessoas como se escrevesse sobre bolhas de sabão, coisas belas e efêmeras. E há uma sucessão delas, elas surgem e se tocam brevemente antes de desaparecem no ar."

Me dá tanto gosto ler seus textos, e tanta curiosidade de ler as obras que te rodeiam...

<3

Karen disse...

:)

Fernanda disse...

Oi, Karen!
Legal que você gostou! E fico mais feliz por você ter destacado o mesmo ponto que pegou forte pra mim: a questão das grandes obras literárias e suas imperfeições.
Agora preciso respirar fundo e encarar "os detetives selvagens".

:-)

beijo e bom Natal !

Dani disse...

adorei a dica de leitura, Roberto Bolaño tá na lista pra comecinho de 2013.

lindo teu blog! :)

Yolanda disse...

Querida Karen, passei pra lhe desejar um Feliz Natal, com Paz, Saúde e Harmonia e Prosperidade; bjs amiga.

Karen disse...

Obrigada, Daniele!

Feliz Natal para você os seus, Yolanda!

Alexandre Marques Rodrigues disse...

O livro é fantástico e Bolaño é prodigioso. Terminar um livro dele é o espanto de ter descoberto alguma coisa nova, que talvez já se conhecia.

Parabéns pelo seu blog; é um belo lugar para frequentar.